Respeitável público: Thalles no Jô

Na semana passada, Thalles Roberto foi entrevistado no Programa do Jô. Uma figura controversa mesmo no meio cristão, Thalles, que fazia parte do backing vocal da banda Jota Quest, é um dos maiores fenômenos da música gospel nacional nos últimos anos. Com 35 anos, o mineiro já foi indicado ao Grammy Latino, recebeu um Troféu Promessas na categoria revelação (2011) e seus discos já venderam milhares de cópias. Em 2012, Thalles foi consagrado pastor na igreja Sara Nossa Terra em Passos (MG), sua cidade natal.

Com esse pano de fundo, nos quase 20 minutos de entrevista no Programa do Jô, descobrimos que Thalles: come tampinhas de garrafas plásticas, fez xixi num casal de tão bêbado/drogado que estava (no passado, claro) e teve um incidente de diarreia enquanto se apresentava em Fortaleza, recentemente. Ainda durante a entrevista, teve a oportunidade de cantar duas músicas, nas quais pode mostrar o seu talento (dentro do seu estilo, obviamente) como músico e cantor.

É de causar espanto tantos cristãos criticando Thalles por ter "desperdiçado uma oportunidade", por não ter "pregado o evangelho em rede nacional", por não ter "evangelizado o Jô Soares" e coisas semelhantes. Ora, Thalles estava ali como um produto do mercado musical e, sinceramente, não creio que ele tenha tanta coisa relevante do ponto de vista bíblico-teológico pra oferecer. Ele estava ali "simplesmente" (sem ser pejorativo) como um cantor gospel de carreira meteórica. Se fosse uma outra pessoa, um pensador, um teólogo, alguém com ideias relevantes, a situação seria diferente. Muito me surpreenderia ver o Ariovaldo Ramos, o Guilherme de Carvalho, o Nelson Bomilcar, por exemplo, desperdiçarem essa oportunidade diante do Jô. Mas o Thalles? Sinceramente, ele deu o que tinha pra dar. Numa comparação, se julgarmos os homens por sua capacidade de construir um edifício, os engenheiros seriam geniais e os médicos, não.

Teologicamente, vemos o Thalles fazendo e falando tantas coisas questionáveis que eu prefiro (de verdade) que ele se limite a falar sobre as tampinhas de garrafa, xixi e cocô. Jô Soares, com todos os seus defeitos, é um cara inteligente, com amplo conhecimento cultural e que, inclusive, já leu a bíblia toda mais de uma vez. Possivelmente, iria sapatear em cima do Thalles se o papo tivesse uma vertente mais profunda. Não estou discutindo se o cara é crente ou não, se teve/tem uma experiência com Deus ou não. Suas letras e suas ministrações são suficientes para medirmos a profundidade das suas raízes.

Infelizmente, Thalleco é um produto do meio, um sintoma da doença que toma conta do meio evangélico, onde qualquer recém-convertido que tenha algum talento se torna um porta-voz, um ícone para uma geração. São cegos guiando cegos como disse Jesus no capítulo 15 do Evangelho de Mateus.

Ironicamente, a entrevista com Thalles Roberto foi exibida nas primeiras horas do dia da Reforma Protestante.

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