Eternamente responsável

Diálogo do pequeno príncipe com a raposa:

- Os homens, disse a raposa, têm fuzis e caçam. É bem incômodo! Criam galinhas também. É a única coisa interessante que fazem. Tu procuras galinhas?

- Não, disse o principezinho. Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?

- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa. Significa "criar laços..."

- Criar laços?

- Exatamente, disse a raposa. Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E eu não tenho necessidade de ti. E tu não tens também necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. E eu serei para ti única no mundo...

- Começo a compreender, disse o principezinho. Existe uma flor... eu creio que ela me cativou...


Depois que o principezinho chega ao planeta Terra e conhece a raposa, surge esse diálogo que culmina em alguns dos momentos mais bonitos deste clássico de Saint-Exupéry. Quem nunca ouviu (ou leu em algum lugar) "tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas"? Ou ainda "se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz"? Então...

Centenas de pessoas cruzam a nossa vida. Grande parte delas com "carreiras meteóricas", desaparecendo tão rápido quanto surgiram. Durante certo tempo, podem até fazer sentido pra gente mas, depois, simplesmente desaparecem, deixando pra trás uma saudade gostosa dos momentos vividos, das alegrias e, até mesmo, das lágrimas e das madrugadas insônes, das crises existenciais e do ombro amigo. Por mais que a vida tenha se encarregado de nos separar, são pessoas de grande valor.

Entretanto, existem aquelas que nos cativam, que criam laços. Inexplicavelmente, se tornam únicas no nosso mundo e temos necessidade daquela presença tão especial.

Ah, aquelas pessoas que nos cativam, que levam nossos corações por onde quer que vão. Dessas que começam a nos fazer felizes uma hora antes de chegarem, por quem vale a pena esperar, que nos conduzem a um céu azul numa tarde ensolarada de domingo. Não estranha o fato de serem as mesmas capazes de nos fazerem sofrer tanto...

Mas cada momento vivido, cada instante especial, cada nascer do sol e cada sorriso sincero, daqueles que nascem no coração, é isso que faz com alguém nos cative. E é exatamente o que se deve guardar na memória.

Por fim, diz a raposa ao princepizinho o seu grande segredo:

- Adeus, disse a raposa. Eis o meu segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.

- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.

- Foi o tempo que perdeste com tua rosa que fez tua rosa tão importante.

- Foi o tempo que eu perdi com a minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.


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